quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Psicólogo fala sobre o prejuízo que universo LGBT sofre com sua divisão em grupos


Ao longo da História, o Homem foi estabelecendo regras para poder se organizar “melhor” em grupo. Tradições religiosas, demandas sociais e econômicas contribuíram para que a heterossexualidade se tornasse a única orientação sexual “verdadeira”, “correta”, “natural”, “fixa” e “possível”. Por causa da Revolução Industrial, as cidades europeias ficaram muito populosas a partir do século XVIII. Era preciso estabelecer regras para o controle da população.
 
Disciplinar para tornar as pessoas obedientes, produtivas e lucrativas era a palavra de ordem da época. A família nuclear (papai, mamãe e filhinhos) vai se tornando a célula fundamental e funcional que sustentava a burguesia capitalista industrial que surgia. A religião e a ciência, financiadas principalmente pelos novos burgueses, endossavam todas as formas de disciplina e controle que os favorecessem. Aqueles que não se adequavam às normas eram submetidos a tratamentos para se tornarem “normais” e “funcionais”. Caso não adiantasse, poderiam ser até mesmo mortos ou mandados para instituições isoladas de confinamento.
 
Séculos antes, influenciados principalmente pelas ideias dos filósofos gregos Sócrates (469 – 399 a.C.) e Platão (428 – 328 a. C.), acreditava-se que era justamente na alma que se localizava a verdadeira identidade da pessoa. Por meio da confissão religiosa, descobriu-se que o corpo iria manifestar na carne os desejos que estavam na alma. Portanto, para saber quem a pessoa era, bastavam saber quais eram seus desejos. Baseados nas tradições, normas e costumes estabelecidos, os sacerdotes faziam um minucioso levantamento de todos os tipos de desejos e os classificavam em “normais” e “anormais”. Quaisquer práticas sexuais que não obedecessem às leis da procriação, casamento e família, eram consideradas anormais imediatamente.
 
Aquilo que parece estranho e anormal sofre preconceito instantaneamente. Então, o grupo de excluídos acaba reproduzindo o que foi feito com eles. Padrões de “superioridade” e “inferioridade” serão criados dentro do próprio grupo. No caso dos homossexuais, por exemplo, os principais subgrupos criados são: os leathers, os ursos, os intelectuais, as barbies, os alternativos, os fashions, as poque-poques, as finas, os pães com ovos, os fora do meio, os andróginos, enfim...
 
Para se proteger, diante de tantas diferenças, o ser humano tem a necessidade de se sentir mais forte em relação ao outro. Elege seu grupo como sendo o único possível, digno, natural, superior e verdadeiro. Ataca e hostiliza os demais, pois sente vontade de se colocar superior, por meio de uma hierarquia fantasiosa que ele mesmo convenciona. No fim, ele não percebe que quer queira quer não, depende e está conectado a todos os seres que existem. É preciso mudar nossa mentalidade competitiva para uma mentalidade cooperativa. Possivelmente, assim haverá maior crescimento, harmonia, paz, solidariedade e união entre todos nós.
 
Bibliografia Consultada: FOUCAULT, Michel História da sexualidade I – a vontade de saber. São Paulo: Graal Editora, 2010. NIETZSCHE, Friedrich Vontade de Potência. São Paulo: Editora Vozes, 2011.
 
Pedro Paulo Sammarco Antunes é psicólogo. Atualmente está cursando doutorado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2010 defendeu o título de mestre em Gerontologia pela mesma instituição. Concluiu sua pós-graduação lato-sensu em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo em 2008. Tem experiência na área de psicologia clínica com ênfase em sexualidade humana.

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