Olhos claros bem abertos, mente aparentemente confusa, pensamentos soltos sobre universos paralelos e realidades alternativas. O ano era 2016. Pouco antes de seu fim, a Netflix nos introduziu à uma série que mal sabíamos o quanto explodiria as nossas mentes, dando um nó na nossa própria percepção sobre narrativas televisivas. The OA era misteriosa em tudo: em seu cartaz instigante, em seus episódios alucinantes, mas principalmente em sua protagonista, ela mesma, com aqueles olhos, cabelos loiros bagunçados e uma pressa enorme em tudo que precisava fazer. E depois de dois anos e três meses de um longo hiato, a plataforma de streaming resgata na nossa memória o quão fascinante esse multiverso apresentado pela produção de fato é. A espera foi longa, mas recompensada com maestria.
Não dá para ser detalhista demais em termos técnicos do que o público testemunhará em The OA. Isso significaria entregar o ouro de uma série instigante, aparentemente lenta, mas explosiva na densidade de seus acontecimentos. Basta ser convidativa, a ponto de querer te fazer continuar a história de Praire (Brit Marling), uma jovem com habilidades - literalmente - transcendentais, que busca resgatar seus amigos de um nefasto pesquisador, que usa cobaias humanas para tentar descobrir os mistérios da vida (e da vida após a morte) e a existência de um mundo interdimensional e suas variações de realidades paralelas.
No novo ciclo, retomamos exatamente de onde paramos, com o caótico "desfecho" de Praire, diante de um ataque dentro da escola de seus novos amigos. No entanto, só percebemos isso pouco depois das mais de uma hora de seu primeiro episódio. Estranhamente, a produção continua sua trama como se tudo o que vimos não existisse. Nos deixando confusos, novos personagens aparecem, uma Zendaya quase aleatória entra na história (essa participação foi um dos segredos mais bem guardados) e a princípio, tudo mudou, a ponto de nos deixar cautelosos e até mesmo receosos com o que a tão aguardada nova temporada teria para nos oferecer. A desconfiança é logo suprida, conforme essa estranha narrativa começa a se desdobrar.
Aparentemente, entender The OA é uma tarefa impossível. Progressiva, a trama ganha novos desdobramentos, responde muitas perguntas em aberto desde o fim da primeira temporada, mas introduz coisas novas demais. Mas com uma construção impecável, a série se esquiva de furos e nos presenteia com uma sequência infinitamente superior daquela que vimos ainda em 2016. Dois anos e três meses depois, a produção parece ser como um vinho. Quanto mais deixamos o tempo fluir, melhor fica o seu gosto.
Bem dirigida e esteticamente fascinante, a série original da Netflix é talvez uma das mais criativas da atualidade. Instigando a audiência com subtramas complexas, ela nos leva à profundas reflexões sobre as limitações humanas, a imaginação e as consequências que pequenos e grandes atos podem acarretar no curso de nossas vidas. Ao explorar uma nova dimensão, conhecemos os nossos personagens mais a fundo, descobrindo contextos distintos daqueles que testemunhamos no ano um da série. De repente, nos pegamos repensando nossas próprias escolhas com o famoso "e se…?". Cruzando linhas temporais, The OA se arrisca a brincar levemente com a questão de continuum espaço-tempo, de maneira bem mais simples e até mesmo didática - sem teorizar demais, mas sempre promovendo teorias que borbulham nas nossas mentes.
Metalinguística e intrigante como o buraco do coelho de Alice no País das Maravilhas, The OAnão é nada satisfatória. Quanto mais descobrimos, mas queremos nos alimentar desse universo fantástico. E para cada pergunta respondida, novas aparecem, nos mantendo em um loop insaciável. Com um desfecho que promete tirar seu sono e revirar suas percepções, a série original da gigante do streaming nos deixa com um gostinho de quero mais, orando para que a terceira temporada não demore mais dois anos para acontecer. Quebra esse galho pra gente Netflix.
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